A pergunta de uma amiga sobre a suposta capa do
Charlie Hebdo me fez sair um pouco de
meu recente universo de fraldas de pano, mamás e cantigas de ninar, para olhar
mais de perto o que poderia estar por trás da imagem, e principalmente da frase
“Confirmé: Le Suprême Brésilienne c’est une merde”. A pergunta da minha amiga
foi se a frase está certa ou não.
Numa olhada rápida dizemos logo de cara que
está errada, pois aprendemos nas primeiras aulas de francês que “le” é artigo
definido masculino logo “o Supremo”, mas o adjetivo “Brésilienne” não concorda
com esse substantivo, já que é feminino (brésilien seria o correto
gramaticalmente). Então, traduzindo, teríamos “O Supremo Brasileira” que soa
estranho tanto em português quanto em francês.
Na imagem, vemos o Lula passar a mão na bunda
da Justiça! (Essa frase é engraçada!) Justiça é um substantivo feminino, o que
poderia explicar o “erro” de concordância, mas ainda assim é difícil de aceitar
essa leitura. Depois de olharmos mais de perto, eu e Bru pensamos num outro
contexto em que encontramos a palavra “sûpreme”. Seria um tipo de corte usado
principalmente nas aves, corte que enfatiza suas partes nobres (peito e coxa da
asa). E o leitor não está errado se pensou no “Supreme da Sadia”. A diferença é
que a ave comercializada pela Sadia é inteira, sendo que em francês quando
falamos “sûpreme de volaille” é realmente só o peito e a coxa da asa. Seria
como se tivesse escrito: “Confirmado: o Filé da Brasileira é uma merda!” (em francês,
daria “Le sûpreme de la Brésilienne, c’est une merde”). Então quando pensamos
nisso vimos que seria uma grande sacada do Charlie
Hebdo em ter feito esse jogo de palavras. Jogo de palavras coerente com a
imagem.
É uma excelente frase mesmo que a tal capa do
jornal nada mais é que um tosco fake.
Assim sendo, só podemos deduzir que quem criou
a capa fake cometeu um erro grotesco
de francês! E que, apesar do erro, uma coisa é a intenção do autor (que supostamente
queria dizer LA Cour Sûpreme, ou seja, o STF), outra é o que se produziu com a
ambiguidade. De toda forma, é muito mais irônico e coerente com as propostas do
Charlie pensar no “filé da justiça” do
que simplesmente no enunciado “a justiça do Brasil é uma merda”.
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